terça-feira, 23 de outubro de 2007

Unânime China

Estima-se que o governo da China já empregue cerca de 30 mil pessoas para monitorar o tráfego de internet e implementar bloqueios a determinados conteúdos online no país, ao mesmo tempo em que o décimo-sétimo congresso do partido comunista chinês aprovou a doutrina do presidente Hu Jintao como sendo a da "perspectiva do desenvolvimento científico". Isso talvez só pareça possível se a ciência refletir exatamente aquilo que deseja o governo chinês, e desde que não haja posições divergentes, exatamente como se deu nesse último congresso: não houve sequer um voto divergente, e tudo o que foi proposto foi aprovado por unanimidade.

Alguns relatos impressionam, e revelam que os filtros nem sempre se referem à tecnologia em si ou a um determinado website, mas sim a um conteúdo específico, considerado sensível, e cuidadosamente pinçado pelos censores. A jornalista Cláudia Trevisan, da Folha, conta que "era possível abrir a página do New York Times, mas não uma reportagem sobre separatismo no Tibete, por exemplo". Além disso, parece haver especial preocupação com os sites de UGC (User Generated Content), como YouTube, Flickr e Blogspot, o que certamente se dá porque esses meios podem efetivamente preencher uma lacuna de informação propositalmente deixada pelo governo da China. Usuários chineses do Flickr reclamam e pedem algum tipo de posicionamento, o que provavelmente não vai acontecer.
Em 2006, três episódios colocaram a censura chinesa na internet em evidência: (i) Yahoo entrega ao governo chinês dados cadastrais do usuário Shi Tao, perseguido por defender que a China desrespeitava maciçamente direitos humanos em seu território; (ii) Microsoft retira do ar um blog oposicionista a Hu, após receber intimação solicitando tal remoção, e (iii) Google implementa filtros para os resultados orgânicos obtidos em suas buscas.

As três empresas sofreram duras críticas porque cooperaram, como se fosse seu encargo lutar pela liberdade de expressão e de comunicação mundo afora. Penso ser evidente que se as demandas do governo Chinês não fossem atendidas, absolutamente nada mudaria. A questão do acesso à informação na China e em outros países da Ásia é obviamente muito mais profunda, e independe de as companhias atenderem ou não a determinações autoritárias do órgão central de comunicação. Trata-se de uma questão que, colocada em perspectiva, deságua na existência ou não de um estado de direito, situação que passa ao largo da atitude isolada de três empresas privadas.

A OpenNet, organização ligada ao Berkman Center for Internet and Society da Harvard Law School, elaborou mapas globais de filtragem e controle na internet. O mapa exibido neste post mostra uma escala de filtragem de conteúdo político em vários países do mundo.
P.S.: Se você estava em dúvida, aquele país pintado de branco na América do Sul é mesmo a Venezuela (aquela que, dependendo do voto brasileiro, pode se tornar membro do Mercosul). A OpenNet explica que, apesar de não ter dados sobre o controle da internet implementado pelo governo venezuelano, espera começar a tê-los, em razão do controle dos meios de comunicação já iniciado por Chávez.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Web 2.0

Se você ainda não viu....veja!



Simplesmente genial.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Cultura internética

Eis duas posições radicalmente opostas a respeito de um mesmo tema:


"A novidade não está, portanto, na informação em si, mas na sua codificação e transformação, por força do computador e das capacidades crescentes das redes de comunicação, numa mercadoria susceptível de ser transferida sem constrangimento de tempo ou de espaço." - Maria Eduarda Gonçalves - Direito da Informação - Almedina

"Hoje já parece ser passé falar da 'Revolução da Internet'. Em alguns círculos acadêmicos, é algo definitivamente ingênuo. Mas não deveria ser. A mudança trazida pelo ambiente da rede da informação é profunda. É estrutural. Alcança mesmo as fundações sobre as quais mercados e democracias liberais co-evoluíram por quase dois séculos." - Yochai Benkler - The Wealth of Networks - Yale University Press

Será que a Internet proporciona uma mudança do conteúdo das informações? Em outras palavras, a informação em si sofre alterações em razão da mencionada ausência de restrições físicas ou temporais para sua transferência? Ou será que, ao contrário, a produção cultural continua se dando nos mesmos moldes de sempre?

Penso que Benkler está com a razão. Não estamos diante de uma simples alteração no modo como nossa produção cultural é transmitida, mas de uma revolução que atinge a própria produção cultural.

Lawrence Lessig já falou bastante sobre como a inter-relação entre código e cultura tem sido operada. A Web 2.0 concretiza a superação do modelo "read-only" em que eu, você e nossos pares éramos tão-somente consumidores daquilo que se produzia pelos grandes veículos na rede. No modelo "read-write", as figuras do autor e do leitor (abstratamente, do gerador do conteúdo e do consumidor do conteúdo) se confundem, e todos nós somos criadores da informação.

O que isso significa? Aquilo que é encarado como produção cultural tem um aspecto bastante diferente do que tinha antes da internet e, principalmente, antes da Web 2.0. Um excelente exemplo é o ranking do Alexa desta semana para o Brasil, que permite verificar quais os websites mais acessados a partir de diferentes critérios de filtragem.

Terra e Globo.com estão, respectivamente, na nona e na décima posição, enquanto Blogger.com está na décima segunda. Trocando em miúdos, aquilo que sempre foi considerado como a grande mídia é quase tão lido pelos internautas brasileiros quanto aquilo que antes era considerado nada mais que um hobbie pessoal. É impossível negar que isso significa uma enorme mudança das nossas fontes de conhecimento, informação e cultura. Se isso é bom ou ruim já é uma outra questão. À primeira vista, acho sensacional.




>>>Referências: