segunda-feira, 17 de março de 2008

Mais China


Isto é quase um update do post anterior sobre o controle da Internet na China: em meio a protestos contra a dominação chinesa do Tibet, vídeos postados no YouTube relatando os incidentes levaram o governo chinês a bloquear acesso ao YouTube no país. Wired, IDG e Slashdot trazem matérias sobre o assunto.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Digest - Previsões 2008

As previsões de John Battelle já são algo tradicional para quem acompanha o mercado de buscas na internet e de mídia digital, e ele melhora a cada ano: das quatorze feitas para 2007, dez estavam corretas. Vale a pena conferir integralmente as previsões de 2008. Há uma para cada um dos grandes players do mercado.

As principais tendências mencionadas pelo oráculo são as seguintes:

1 - No mundo da Web 2.0, os muitos players que receberam venture capital em 2005/2006 e não decolaram até agora sairão do mercado como resultado de uma filtragem natural. Em outras palavras, se deu certo, ótimo, se não deu, fica pra Web3. Curioso que, nas previsões para 2007, ele acertou que haveria alguma agitação em torno do possível estouro de uma bolha, coisa que não passaria de esforço imaginativo. Essa saída do mercado dos players cujo desempenho não se demonstrou razoável não tem nada a ver com uma eventual bolha - é um processo normal e saudável, nas palavras do próprio Battelle.
  • O melhor artigo que li em 2007 sobre uma suposta bolha é este, publicado no Bits do New York Times.
  • Carlota Perez, autora de Technological Revolutions and Financial Capital: The Dynamics of Bubbles and Golden Ages, dá uma geral no assunto aqui.
2 - O modelo de plataformas e aplicativos fechados e escolhidos previamente pelos fabricantes no mercado de mobile technology, segundo Battelle, vai perder força em 2008, e 2009 será o ano em que veremos uma real possibilidade de desenvolvimento econômico para a internet móvel. Entretanto, Battelle não coloca muitas fichas no Open Handset Alliance.
  • Um artigo interessante do Jonathan Zittrain, publicado na Harvard Business Review identifica nessa abertura, que sempre existiu para o PC (o PC é um dispositivo "multi-purpose"), o verdadeiro fundamento da criatividade que formou aquilo que, hoje, conhecemos como Internet. Nos nossos PDAs, celulares e afins de hoje, o usuário médio só faz aquilo que a fabricante e a operadora o deixam fazer, e Zittrain entende que a derrota desse modelo fechado trará mais coisas novas para a Internet. John Battelle diz que isso é o que gerará a possibilidade de uma economia fundada em internet móvel.
3 - As grandes aquisições de 2006 e 2007 relacionadas ao modelo de publicidade na internet (e.g. Google/Doubleclick, Microsoft/Aquantive, Yahoo/Rightmedia) terão que produzir resultado em 2008. Isso causará uma tensão extra que reduzirá o apetite para aquisição de novas empresas, fazendo com que as compradoras mantenham seu foco no que já está no seu prato. (eu não acredito muito nesta previsão do Battelle....).
4 - Este será o ano em que o "Conversational Marketing" se tornará definitivamente uma nova forma de publicidade e, até o final do ano, o marketing que adiciona valor à vida do consumidor será uma necessidade, e não mais um experimento. Isto será uma aplicação da revolução do mercado de buscas ao o campo do marketing. Em outras palavras, a idéia de promover seu produto de uma maneira top-down (grande instituição vs. pequeno consumidor) será definitivamente derrotada em 2008.
  • Recomendo o site e as apresentações do Martin Lindstrom pra quem se interessa pelo assunto; um artigo da Wired sobre crowdsourcing, embora não tenha relação com marketing ou publicidade, dá um panorama sobre uma mudança profunda na forma de produção de conteúdos na Internet - o que, penso, tem tudo a ver com o modelo de long tail e com o fato de que o top-down não funciona mais como antes.
5 - O mercado de publicidade na Internet terá ganhos significativos em 2008 apesar das previsões negativas, mas apenas para as companhias que demonstrem a existência de uma estratégia sólida, recompensando a inovação nesse campo. Isso significa, para Battelle, que não será um ano de grandes IPOs, já que quem não tem essa solidez de estratégia (leia-se: qualquer um dos newbes) deverá ser punido pelo mercado mais amadurecido em 2008.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Unânime China

Estima-se que o governo da China já empregue cerca de 30 mil pessoas para monitorar o tráfego de internet e implementar bloqueios a determinados conteúdos online no país, ao mesmo tempo em que o décimo-sétimo congresso do partido comunista chinês aprovou a doutrina do presidente Hu Jintao como sendo a da "perspectiva do desenvolvimento científico". Isso talvez só pareça possível se a ciência refletir exatamente aquilo que deseja o governo chinês, e desde que não haja posições divergentes, exatamente como se deu nesse último congresso: não houve sequer um voto divergente, e tudo o que foi proposto foi aprovado por unanimidade.

Alguns relatos impressionam, e revelam que os filtros nem sempre se referem à tecnologia em si ou a um determinado website, mas sim a um conteúdo específico, considerado sensível, e cuidadosamente pinçado pelos censores. A jornalista Cláudia Trevisan, da Folha, conta que "era possível abrir a página do New York Times, mas não uma reportagem sobre separatismo no Tibete, por exemplo". Além disso, parece haver especial preocupação com os sites de UGC (User Generated Content), como YouTube, Flickr e Blogspot, o que certamente se dá porque esses meios podem efetivamente preencher uma lacuna de informação propositalmente deixada pelo governo da China. Usuários chineses do Flickr reclamam e pedem algum tipo de posicionamento, o que provavelmente não vai acontecer.
Em 2006, três episódios colocaram a censura chinesa na internet em evidência: (i) Yahoo entrega ao governo chinês dados cadastrais do usuário Shi Tao, perseguido por defender que a China desrespeitava maciçamente direitos humanos em seu território; (ii) Microsoft retira do ar um blog oposicionista a Hu, após receber intimação solicitando tal remoção, e (iii) Google implementa filtros para os resultados orgânicos obtidos em suas buscas.

As três empresas sofreram duras críticas porque cooperaram, como se fosse seu encargo lutar pela liberdade de expressão e de comunicação mundo afora. Penso ser evidente que se as demandas do governo Chinês não fossem atendidas, absolutamente nada mudaria. A questão do acesso à informação na China e em outros países da Ásia é obviamente muito mais profunda, e independe de as companhias atenderem ou não a determinações autoritárias do órgão central de comunicação. Trata-se de uma questão que, colocada em perspectiva, deságua na existência ou não de um estado de direito, situação que passa ao largo da atitude isolada de três empresas privadas.

A OpenNet, organização ligada ao Berkman Center for Internet and Society da Harvard Law School, elaborou mapas globais de filtragem e controle na internet. O mapa exibido neste post mostra uma escala de filtragem de conteúdo político em vários países do mundo.
P.S.: Se você estava em dúvida, aquele país pintado de branco na América do Sul é mesmo a Venezuela (aquela que, dependendo do voto brasileiro, pode se tornar membro do Mercosul). A OpenNet explica que, apesar de não ter dados sobre o controle da internet implementado pelo governo venezuelano, espera começar a tê-los, em razão do controle dos meios de comunicação já iniciado por Chávez.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Web 2.0

Se você ainda não viu....veja!



Simplesmente genial.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Cultura internética

Eis duas posições radicalmente opostas a respeito de um mesmo tema:


"A novidade não está, portanto, na informação em si, mas na sua codificação e transformação, por força do computador e das capacidades crescentes das redes de comunicação, numa mercadoria susceptível de ser transferida sem constrangimento de tempo ou de espaço." - Maria Eduarda Gonçalves - Direito da Informação - Almedina

"Hoje já parece ser passé falar da 'Revolução da Internet'. Em alguns círculos acadêmicos, é algo definitivamente ingênuo. Mas não deveria ser. A mudança trazida pelo ambiente da rede da informação é profunda. É estrutural. Alcança mesmo as fundações sobre as quais mercados e democracias liberais co-evoluíram por quase dois séculos." - Yochai Benkler - The Wealth of Networks - Yale University Press

Será que a Internet proporciona uma mudança do conteúdo das informações? Em outras palavras, a informação em si sofre alterações em razão da mencionada ausência de restrições físicas ou temporais para sua transferência? Ou será que, ao contrário, a produção cultural continua se dando nos mesmos moldes de sempre?

Penso que Benkler está com a razão. Não estamos diante de uma simples alteração no modo como nossa produção cultural é transmitida, mas de uma revolução que atinge a própria produção cultural.

Lawrence Lessig já falou bastante sobre como a inter-relação entre código e cultura tem sido operada. A Web 2.0 concretiza a superação do modelo "read-only" em que eu, você e nossos pares éramos tão-somente consumidores daquilo que se produzia pelos grandes veículos na rede. No modelo "read-write", as figuras do autor e do leitor (abstratamente, do gerador do conteúdo e do consumidor do conteúdo) se confundem, e todos nós somos criadores da informação.

O que isso significa? Aquilo que é encarado como produção cultural tem um aspecto bastante diferente do que tinha antes da internet e, principalmente, antes da Web 2.0. Um excelente exemplo é o ranking do Alexa desta semana para o Brasil, que permite verificar quais os websites mais acessados a partir de diferentes critérios de filtragem.

Terra e Globo.com estão, respectivamente, na nona e na décima posição, enquanto Blogger.com está na décima segunda. Trocando em miúdos, aquilo que sempre foi considerado como a grande mídia é quase tão lido pelos internautas brasileiros quanto aquilo que antes era considerado nada mais que um hobbie pessoal. É impossível negar que isso significa uma enorme mudança das nossas fontes de conhecimento, informação e cultura. Se isso é bom ou ruim já é uma outra questão. À primeira vista, acho sensacional.




>>>Referências: